sábado, 22 de outubro de 2011

Exemplo para todas as gerações

Ícone do empreendedorismo feminino, ela transformou a loja dos tios em um império e foi chamada por Dilma Rousseff para assumir a Secretaria da Micro e Pequena Empresa


Redação PEGN


Editora Globo
QUEM É > Luiza Helena Trajano, presidente da rede de lojas Magazine Luiza
O QUE FAZ > Dirige uma das maiores redes de varejo do país

Em 1956, em uma de suas viagens a Franca, no interior paulista, o caixeiro-viajante Pelegrino conheceu a balconista Luiza. Um ano depois, estavam casados e dando os primeiros passos na empresa que, anos mais tarde, revelaria aquela que é considerada hoje a mulher de negócios mais bem-sucedida do país – a ponto de ser convidada pela presidente Dilma Rousseff para ocupar a cadeira de ministra da Secretaria da Micro e Pequena Empresa.

Depois de comprar uma loja de móveis e eletrodomésticos chamada A Cristaleira, Pelegrino e Luiza promoveram um concurso na rádio local para escolher um novo nome para o estabelecimento. Ganhou Magazine Luiza. O negócio ia bem, mas a verdadeira explosão estava por vir. Luiza Helena Trajano, que cresceu dentro da loja dos tios, logo começou a mostrar seu talento empreendedor. No fim dos anos 1970, passou a fazer parte da direção da loja. No início dos anos 1980, ela informatizou a empresa (os computadores ainda eram uma novidade no Brasil), ajudou a abrir 32 filiais e montou um centro de distribuição em Ribeirão Preto.

Em 1991, dona Luiza mandou um bilhete à sobrinha: “Logo vou fazer 62 anos. Estou ficando velha. Acho melhor você assumir o Magazine”. Decisão feliz. Luiza Helena diminuiu o poder da família e aumentou o dos funcionários, inaugurou a primeira loja virtual e passou a comprar concorrentes. Seu sucesso à frente do negócio chegou até a Harvard Business School, que designou pesquisadores para analisar o “fenômeno”.

Em junho de 2011, a rede anunciou a compra de 121 lojas do Baú da Felicidade, do Grupo Silvio Santos, por R$ 83 milhões. Atualmente, o Magazine Luiza tem 613 lojas em 430 cidades e 21 mil funcionários. Faturou, em 2010, R$ 5,3 bilhões.


“Comecei muito nova, aos 13 anos. Mas não existe uma idade certa, o momento chega e você percebe”


PEGN – Quais as principais características de uma empreendedora de sucesso?
Luiza Trajano –
Empreendedorismo, para mim, é fazer acontecer, independentemente do cenário, das opiniões ou das estatísticas. É ousar, fazer diferente, correr riscos, acreditar no seu ideal e na sua missão. É propor ideias criativas seguidas de ação, é ter a capacidade de envolver a equipe, de buscar oportunidades, ter visão global e de resultados e trabalhar com foco nas soluções rápidas. Mas cada um desenvolve seu próprio estilo, não existe uma receita pronta.

PEGN – Há diferenças entre as empreendedoras brasileiras e as de outros países?
LT –
Os números do empreendedorismo variam de acordo com a situação econômica de cada país. Temos muitas pesquisas que revelam a alta capacidade de empreendedorismo do brasileiro, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. O que percebemos é que a mulher tem algumas características mais peculiares que favorecem a gestão na economia atual.

PEGN – Que erros podem ser fatais na abertura ou na condução de uma empresa?
LT –
Não existe uma fórmula para dizer o que dará certo ou errado. Recebemos muitas interferências externas, como a rapidez das informações, da tecnologia, das tendências... Esses fatores nos trazem grandes desafios. Quanto mais o empreendedor estiver alinhado com sua profissão, quanto maior seu conhecimento e, principalmente, sua vocação, maior a chance de dar certo. Ter agilidade, qualidade e rentabilidade é obrigação. O que vai diferenciar uma empresa da outra são o atendimento e a inovação. Outras atitudes fundamentais são cuidar do fluxo de caixa, perceber o momento de mudar de ciclo para que o negócio não envelheça, ter foco no cliente e cumprir o que se promete para ter credibilidade.

PEGN – O que é mais importante: saber lidar com pessoas ou com finanças?
LT –
As coisas precisam caminhar juntas. O maior desafio é como colocar as pessoas em primeiro lugar, tendo lucro sustentável e não a qualquer preço. No início da carreira, me perguntava por que empresas que davam muito lucro empregavam pessoas infelizes, enquanto que, em empresas onde as pessoas trabalhavam felizes, o lucro não aparecia. Por que não ter as duas coisas? Foi então que iniciamos, em 1991, um trabalho para ter as pessoas e o lucro no centro da companhia. Ter premissas claras na gestão, um ambiente agradável, valorizar e respeitar as pessoas são pilares que fortalecem a empresa. Os resultados virão por consequência.

PEGN – Trabalhar em família ou com amigas é bom ou ruim para o negócio?
LT –
O Magazine Luiza foi fundado pelos meus tios Luiza e Pelegrino. Sempre trabalhamos em família. Mas tivemos a preocupação de ter premissas claras e institucionalizadas que ajudaram muito nos processos de decisão. A companhia veio sempre em primeiro lugar, antes de qualquer interesse pessoal. Minha tia falava que “não se deve matar a galinha dos ovos de ouro”. Quando há essa intenção, com ética e regras claras, fica mais fácil lidar com qualquer situação – com a família, com os amigos ou com os demais funcionários.

PEGN – Em algum momento fez diferença, para os negócios, o fato de ser mulher?
LT –
As mulheres conquistaram seu espaço no mercado. Hoje temos grandes líderes em todos os segmentos. Graças a essa evolução, a sociedade se tornou menos conservadora. E características como sensibilidade, intuição e disposição para servir, tão comuns entre as mulheres, passaram a ser indispensáveis para o sucesso. A união das forças masculinas e femininas só colabora para o resultado, assim como a diversidade de raças e culturas. Sabemos que ainda não há equilíbrio, mas foi um grande salto. Na época em que assumi a superintendência, em 1991, eu precisava provar minha competência muito mais do que preciso hoje.

PEGN – O que a senhora acha das políticas públicas de fomento às pequenas e médias empresas?
LT –
O empreendedorismo faz parte da índole brasileira. As micro, pequenas e médias empresas representam 98% do conjunto. Segundo o BNDES, o crescimento das PMEs é bem superior ao das de grande porte. Mas muitas sofrem para se manter no mercado. Segundo o Sebrae, 39% delas fecham no primeiro ano. O governo ajuda com medidas importantes. Mas as empresas precisam, primeiro, olhar de dentro para fora e encontrar onde estão os pontos de melhoria, buscar alternativas que não estão só na mão dos políticos.

PEGN – Qual a melhor fase da vida de uma mulher para empreender: aos 20, 30 ou depois dos 40 anos?
LT –
Comecei aos 13 anos. Em minhas férias escolares e fins de semana, já estava no balcão da loja ajudando e aprendendo. Quando você é um empreendedor nato, o momento chega e você percebe que é sua oportunidade. A experiência ajuda, mas a caminhada do dia a dia é que faz você adquirir experiência. A caminhada é tão importante quanto o resultado final.

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